Um mantra (tib. ngag / sngags, jap. shingon), proteção mental, é uma série de sílabas místicas que invocam a energia de um buddha ou bodhisattva. A repetição (sânsc. japa) de mantras no Vajrayana é tão importante que o buddhismo esotérico também é chamado Mantrayana, o Veículo do Mantra. Existem também os dharanis, mantras mais longos, e as sílabas semente (sânsc. bija) que sintetizam a essência da mente iluminada.
Os mantras Tibetanos são entoados como orações, repetidas.
Para algumas escolas, especificamente as de fundamentação técnica, mantra pode ser qualquer som, sílaba, palavra, frase ou texto, que detenha um poder específico. Porém, é fundamental que pertença a uma língua morta, na qual os significados e as pronúncias não sofram a erosão dos regionalismos por causa da evolução da língua. Existem mantras para facilitar a concentração e meditação, mantras para energizar, para adormecer ou despertar, para desenvolver chakras ou vibrar canais energéticos a fim de desobstruí-los.
Mecanismo de funcionamento
Ao longo dos anos, os ocidentais que chegaram ao oriente tentaram explicar porque os mantras produzem os efeitos esperados. John Blofeld, que estudou por dentro as culturas indiana e chinesa, notou que não é necessário saber o significado das palavras ditas.
Alguns psicólogos ocidentais defendem que o mantra possui uma energia sonora que movimenta outras energias que envolvem quem o entoa. Blofeld observou que não importa a correcção da pronúncia: encontrou o mesmo mantra entoado de forma muito diferente em países diversos, e sempre produzindo os efeitos esperados.
Outra explicação seria a mesma usada para o efeito dos mudras: um gesto repetido por tantas pessoas durante tantos séculos que criou um tipo de caminho energético - que podemos chamar de marca no akasha, ou no inconsciente colectivo - que é rapidamente seguido pela psique da pessoa que o executa. O fundamento filosófico da escola hindu Mimamsa influenciou o uso de mantras no buddhismo Mahayana e Vajrayana.
Nalguns sistemas hindus, diz-se que os mantras são sons primordiais que possuem poder em e por si mesmos. No tantra buddhista tibetano, os mantras não têm tal poder inerente — a menos que sejam recitados por alguém com uma mente focalizada, eles são apenas sons. Porém, para as pessoas com uma atitude adequada, os mantras podem ser poderosas ferramentas que ajudam no processo de transformação.
(John Powers, Introduction to Tibetan Buddhism)
Já que as sílabas dos mantras são os símbolos ou marcas do Dharma, elas são definidas como o selo de todos os buddhas. Já que a divindade e o mantra não são diferentes, elas são definidas com divindades por todos os yogis. Já que estas marcas têm a habilidade de abençoar o fluxo mental dos seres sencientes, elas são definidas com buddhas. Já que as bençãos dos tathagatas estão misturadas com os fenómenos do amadurecimento kármico, elas são definidas como aparência. Já que a sabedoria dos buddhas abençoou as sílabas, elas são definidas como indivisíveis.
(Jamgön Kongtrül Lodrö Thaye, The Light of Wisdom)
Um mantra não é nem uma "palavra mágica" nem um "encantamento". É um instrumento da representação e concentração mentais e por isso um recurso do poder mental (mas não de forças sobrenaturais). A raiz man significa "pensar", enquanto o sufixo tra exprime um instrumento, um recurso de accionamento. O efeito do mantra não depende, por conseguinte, de sua entonação — este é outro mal-entendido amplamente divulgado —, mas sim da atitude mental, das associações conscientes e inconscientes que são criadas através da intuição e dos exercícios a ela ligados.
(Lama Anagarika Govinda, Reflexões Budistas)
A relação entre a fala, a respiração e o mantra pode ser melhor demonstrada através do método pelo qual o mantra funciona. [...] Através da pronunciação repetida, pode-se obter controlo sobre uma determinada forma de energia. A energia do indivíduo está fortemente ligada à energia externa, e uma pode influenciar a outra. [...] É possível influenciar a energia externa, efectuando os assim chamados "milagres". Tal actividade é realmente o resultado de se ter controlo sobre a própria energia, através do qual se obtém a capacidade de comando sobre fenómenos externos.
(Chögyal Namkhai Norbu, Dzogchen)
O mantra mais conhecido do buddhismo tibetano é Om Mani Padme Hum (os tibetanos pronunciam Om Mani Peme Hum), associado ao bodhisattva da compaixão, Avalokiteshvara. Nesse mantra, a sílaba Om representa a presença física de todos os buddhas. A palavra Mani, que em sânscrito significa jóia, simboliza a jóia da compaixão de Avalokiteshvara, capaz de realizar todos os desejos. A palavra Padme significa lótus, a bela flor que nasce no lodo; do mesmo modo, devemos superar o lodo das negatividades e desabrochar as qualidades positivas. A sílaba Hum, representando a mente iluminada, encerra o mantra.
Os mantras nem sempre possuem um significado claro e muitos deles são compostos por sílabas aparentemente ininteligíveis. Mesmo assim, eles são efectivos porque ajudam a manter a mente quieta e pacífica, integrando-a automaticamente na concentração. Eles fazem a mente ser receptiva às vibrações muito subtis e, portanto, aumentam sua percepção. Sua recitação erradica as negatividades grosseiras e a verdadeira natureza das coisas pode ser reflectida na claridade resultante na sua mente.
(Lama Zopa Rinpoche, Wisdom Energy)
Como actuam os mantras? O som exerce um poderoso efeito sobre nosso corpo e mente. E pode acalmar-nos e dar-nos prazer ou ter influência desarmoniosa, gerando uma sensação subtil de irritação. O mantra é ainda mais poderoso do que um som comum: é como uma porta que se abre para a profundidade da experiencia. Visto que os mantras não têm sentido conceitual, não evocam respostas pré-determinadas. Quando entoamos um mantra, ficamos livres para transcender os reflexos habituais. O som do mantra pode tranquilizar a mente e os sentidos, relaxar o corpo e ligar-nos com uma energia natural e curativa. (Tarthang Tulku, A mente oculta da liberdade) Recitamos e meditamos sobre o mantra, que é o som iluminado, a fala da divindade, a união do som com a vacuidade. [...] Ele não possui uma realidade intrínseca, é simplesmente a manifestação do som puro, experienciado simultaneamente com sua vacuidade. Através do mantra, não nos apegamos mais à realidade da fala e do som encontrados no quotidiano, mas experienciamo-los como sendo vazios. Então, a confusão do aspecto da fala de nosso ser é transformada na consciência iluminada. (Kalu Rinpoche, The Dharma) |
O meu mantra preferido é sem dúvida o mantra do coração: GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA.
Traduzido literalmente:
Foi, foi (Gate Gate), Foi além (Paragate), Foi completamente para a outra margem (Parasamgate), Chegou à iluminação, que maravilha (Boddhi), Que assim seja, que se manifeste (Swaha).
Também chamado de MANTRA DO CORAÇÃO, ou Mantra da Sabedoria Transcendental, o GATE, ao ser entoado, protege a mente de todos os medos. Com isso, ele ajuda-nos a atingir o equilíbrio necessário para a transição ao estado que os budistas chamam de iluminação. Ou seja, este mantra estimula-nos a ir além, ajudando-nos a atingir o nosso melhor e a nossa Luz interna.
http://www.youtube.com/watch?v=a41PjF6czRU&feature=player_embedded
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Mantra usado para colocar por cima da porta pelos monges budistas. |